domingo, 21 de novembro de 2010

Exercício de Sonho

Outro dia, indo para o trabalho e ouvindo música, comecei a viajar.... então, vamos lá... já que é para sonhar, vamos sonhar grande.
Eu me vejo em uma ilha grega, com aquelas casas brancas ao fundo, o mar azul. Já é tarde e o sol vai baixando devagar no horizonte. Nessa casa há uma sacada...ou melhor, um grande terraço com vista para uma enseada... quase deserta. No caminho vem meu amor... chegando devagar.... e a felicidade, uma felicidade incontida em mim... em nós... em nosso encontro produz: o milagre.

Essa música, que a princípio parece melancólica, para mim traduz um estado de felicidade ímpar - por poucos alcançados... "eu estar contigo é milagre" - não sei se consigo traduzir toda a profundidade desse pensamento...

É grande o silêncio
aguardo o milagre
chegas amor finalmente,
o meu amor, mesmo tarde

e vou livremente,
contigo a meu lado
tenho o meu mundo contente
neste sonhar acordado

- onde está a tua voz, quero ouvir a tua voz...
- onde está a tua voz, queria ouvir a tua voz...

o desejo pretende,
louvar a saudade,
a tua voz anda ausente,
e eu estar contigo é milagre




(ela não canta a última parte da canção...)

Neve

a neve cai lá fora
cobrindo de branco
a verdejante paisagem

a neve cai lá fora
forte, contínua

a neve cai lá fora
congelando corações
(de pedra)
enfraquecendo as almas

a neve cai lá fora
e eu ouço sussurros
a neve cai lá fora
e eu ouço mentiras

a neve cai lá fora
mas eu sigo
entrincheirado
com a face vermelha
as mãos fatigadas
os olhos cansados
a roupa rota

a neve cai lá fora
mas não há jamais
de congelar meu coração
de enfraquecer minh'alma
ainda que a neve caia
mais forte lá fora

a neve cai lá fora
e eu vejo
de minha trincheira
nos flocos de neve, através dela
um raio de sol
um arco-íris sublime

e a semente jogada
ao léu
há de germinar
ainda que o inverno seja longo
ainda que a neve caia insistente lá fora

Sonho Branco

Sonhei com você esta noite!
É bom reencontrá-lo.
Em nada mudou
Seu rosto, seu corpo
Seu sorriso, você era o MESMO!

E eu era o mesmo
Rimos a não mais poder...

Onde estávamos?
Uma casa. Um cômodo
Largo, sem qualquer identificação
Um mundo branco fechado em si.

Você me mostrou seus brinquedos
Você que os tivera sempre mais
E mais belos que os meus.
Você que sempre os compartilhou comigo.

E ríamos muito...

Por fim satisfizemos os (meus) desejos secretos
E tudo se desfez em branco!

Pablo Neruda! Os Versos Mais Tristes



Não tenho nenhum livro dele... dica para o Natal ;-)

domingo, 15 de agosto de 2010

Stand by Me

Recebi este vídeo da Paula. Em uma palavra: maravilhoso.

"Não importa quem és
Não importa aonde vais em tua vida
Em algum momento vais precisar de alguém para estar ao teu lado"


Coração

Meu coração pede atenção
Quer saltitar por aí
Digo-lhe que fique quieto em seu canto

Meu coração pede atenção
Quer bater qual tambor
Digo-lhe que não estou para percussão
Quero o som das cordas
O som calmo das violas enluaradas
A melodia dos violinos

Crime Castigado

Outro livro terminado: Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski. É um romance denso, profundo; os diálogos por vezes são longos discursos. A história se passa na São Petersburgo dos idos de 1850 e é sobre Raskólnikov, que resolve assassinar uma velha usurária. No começo do livro somos levados a crer que o móvel do crime é financeiro. Mas logo descobrimos que não e então acompanhamos a constante angústia de Raskólnikov pelo crime que cometera. De fato o crime passa a atormentá-lo a tal ponto que por vezes pensamos que ele se denunciará - e então torcemos para que ele não o faça, que fique quieto. Suas atitudes fazem com que os outros desconfiem dele, mas como ele provém de uma classe social alta, apesar de sua pobreza, acham até um insulto pensar que fosse capaz. Ao final ele não resiste a sua própria consciência e, aliviado, entrega-se à polícia. É então mandado para a prisão na Sibéria; Sônia, a quem confessara o crime, o acompanha - amando-o incondicionalmente. E é na Sibéria que ele, redimindo-se de seu crime resignadamente, irá descobrir seu amor por ela.

O livro não é um clássico à toa, os personagens são construídos com profundidade. Algo interessante, principalmente no começo do livro, é que o narrador (em terceira pessoa) dá espaço ao protagonista e os seus (longos) pensamentos são transcritos entre aspas.

O tema de Crime e Castigo me fez lembrar a passagem de um outro livro que li (não estou bem certo se era Hobsbawm). A ideia de que o castigo só encontra sua função naquele que verdadeiramente a reconhece. Um chefe de fábrica (acho que era esse o exemplo dado por Hobsbawm, citando um pensamento dos primórdios da industrialização inglesa - não era uma ideia defendida por Hobsbawn, obviamente) decide punir o trabalhador mais empenhado. Seria esse trabalhador que de fato sentiria o castigo em sua própria consciência. Para o trabalhador relapso, pouco importa, já ganha um mísero salário, se fizer uma ou outra coisa errada não se preocupará com isso. A história de Raskólnikov tem como foco essa questão: a partir do crime, ele já estará se punindo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Madame Bovary

Terminei de ler o clássico da literatura mundial Madame Bovary, do francês Gustave Flaubert. Incrível como o autor consegue, a partir de um enredo relativamente simples, criar uma obra tão esplêndida. A história conta a vida de Charles Bovary, do seu nascimento à sua morte. Mas a protagonista sem dúvida é sua esposa, Emma, uma típica romântica que não se conforma com sua pacata vida doméstica, vida de esposa do médico de uma pequena cidade do interior francês, dos idos de 1850. O autor confronta o romantismo de Emma Bovary com a crua realidade. Para escapar à rotina e ao tédio, ela se entrega a um "cavalheiro", vendo nele seu príncipe. Sonha com heroísmo, uma vida emocionante em algum país exótico, onde a paixão e o amor nunca acabariam. Mas o amante a abandona na véspera da planejada fuga. Emma se desespera e adoece; seu marido, para atendê-la em todos os seus caprichos, afasta-se de seu trabalho e deixa-se endividar. Após convalescer-se e passado algum tempo, Emma arranja outro amante, mas acaba por enxergar a mediocridade dele. Ela passa, então, a gastar muito mais do que possui, engana seu marido (além de traí-lo) também no aspecto financeiro, fazendo-o assinar procurações e promissórias - dinheiro que gasta em extravagâncias com seu amante. Por fim, o principal comerciante que lhe financia protesta suas dívidas e seus pertences vão à leilão. Atônita com a verdade que fatalmente virá à tona, ela comete suicídio. Charles, que ainda a ama loucamente, inaltece sua mulher até que, vasculhando um baú escondido no sótão, descobre as cartas de amor recebidas por Emma. Ele morre de desilusão.
O livro é triste e emocionante, o autor consegue magistralmente mostrar as angústias de Madame Bovary. Ele ataca o ideal romântico, enfatizando seus limites e questionando a veleidade das paixões.

Situações da Vida Privada - Fazendo uma Visita

_ Olha você fez torrada, há quanto tempo não como torrada - disse eu.

_ Estão fresquinhas, fiz agora.

_ Com manteiga fica uma delícia.

E como, como, como.... nhan.. nhan... nhan...

_ Estão muito boas estas torradas - elogiei eu.

_ É mesmo?! Que bom. Esse pão já estava rolando aqui na cozinha havia uns 20 dias!

_ ...

Ops!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fotovoltaica

Algumas palavras têm vida própria, não pertencem a quem as pronuncia. Um exemplo: babalorixá! É uma palavra que sai de nossa boca, escorregando por nossos lábios e vai bater violentamente na face do ouvinte. Babalorixá! Há de se ter cuidado para que um perdigoto não a acompanhe! Existem outras assim... (Balabanian, da Aracy, não conta, é nome próprio e, a não ser que se torne tão comum quanto Silva, cairá no esquecimento). Entretanto, há uma que eu gostaria de destacar: fotovoltaica! Ela tem rima e ritmo dentro de si mesma. Eu a registro aqui com receio de que, se a utilização das placas fotovoltaicas tornar-se popular, arranjem-lhe um sinônimo, quem sabe estrangeiro, e ela se perca. Então, se acaso no futuro algum internauta ao pesquisar Voltaire erre na digitação, o Google poderá lhe sugerir "você quis dizer voltaica?". Quem sabe o incauto internauta seja direcionado para este blog que, por fim, não lhe dirá nada sobre o que é fotovoltaica!

Caminhos

Caminhou, caminhou, caminhou
E ao caminhar, perdia-se

Caminhou, caminhou, caminhou,
E ao caminhar, fundia-se

E ao caminhar, sentia
No olhar, toda amargura
No peito, toda solidão
Na face, marcas profundas
Reflexos da decepção!

Mademoiselle Chambon

Um filme do qual gostei bastante foi Mademoiselle Chambon. Efetivamente uma obra de arte. Leeeennnnnto, mas impressionante. Aquele tipo de filme em que os diálogos não são como uma partida de ping-pong, mas os personagens dão o tempo necessário a uma reflexão mais profunda sobre o que ocorre em suas vidas. Claro que ele não se passa em uma metrópole, mas em uma cidadezinha francesa. Sim, o filme é francês e, ao contrário de muitas produções conterrâneas, não é verborrágico. Falo de Mademoiselle Chambon também por conta da trilha sonora, que é muito boa. Uma das canções é Septembre, de Barbara:



Jamais la fin d'été n'avait paru si belle.
Les vignes de l'année auront de beaux raisins.
On voit se rassembler, au loin les hirondelles
Mais il faut se quitter. Pourtant, l'on s'aimait bien.

Quel joli temps pour se dire au revoir.
Quel joli soir pour jouer ses vingt ans.
Sur la fumée des cigarettes,
L'amour s'en va, mon cœur s'arrête.
Quel joli temps pour se dire au revoir.
Quel joli soir pour jouer ses vingt ans.

Les fleurs portent déjà les couleurs de Septembre
Et l'on entend, de loin, s'annoncer les bateaux.
Beau temps pour un chagrin que ce temps couleur d'ombre.
Je reste sur le quai, mon amour. A bientôt.

Quel joli temps, mon amour, au revoir.
Quel joli soir pour jouer ces vingt ans.
Sur la fumée des cigarettes,
L'amour nous reviendra peut-être.
Peut-être un soir, au détour d'un printemps.
Ah quel joli temps, le temps de se revoir.

Jamais les fleurs de Mai n'auront paru si belles.
Les vignes de l'année auront de beaux raisins.
Quand tu me reviendras, avec les hirondelles,
Car tu me reviendras, mon amour, à demain...

O Trovador

Assisti à ópera O Trovador no Teatro Municipal (RJ) com alguns amigos. Após a reforma, o Municipal está realmente lindo, lindíssimo! Todas as cores e formas parecem saltar aos nossos olhos e a vontade que temos é, terminado o espetáculo de 2:30h, permanecer lá. E foi o que fizemos por alguns minutos.
A ópera em si fascinou-me pela grandiosidade da montagem: uma orquestra maravilhosa, tenores, sopranos, contraltos, etc com vozes portentosíssimas; muitos artistas no palco, malabarismos cênicos que não se comparam a nenhum filme 3D! A música clássica não é o meu forte, mas com toda essa produção fiquei de fato encantado. A ópera é difícil de entender... imagino que, como uma arte maior, exija uma longa curva de aprendizado. Para dizer se gosto de um filme ou peça teatral, pergunto-me se o(a) veria novamente ou o(a) recomendaria a alguém... - loucura minha, uma das muitas - ... A ópera O Trovador eu veria novamente, mas a recomendaria a poucos mortais que conheço que têm grande sensibilidade musical.
Descontando alguns contratempos menores que ocorreram naquele dia, foi uma noite maravilhosa!

quinta-feira, 25 de março de 2010

I'm Yours - Jason Mraz

Minha irmã (Te Amo) quando leu sobre minhas aventuras em Paraty, enviou-me este vídeo pelo orkut - resolvi colocá-lo aqui... E também achei a minha cara!
Vai como forma de me redimir pelo vídeo ao lado "Torneró", para o qual, segundo a Anna, brega é pouco!! kkkk...


sábado, 20 de março de 2010

Falando em Arvorismo...

Será inaugurado no Rio um circuito de Arvorismo no Parque da Catacumba, Lagoa. Vejam a notícia do Globo.

Quem se arrisca?! 'Bora marcar! :-)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Mergulho e Arvorismo - Aventuras em Paraty


Em Paraty experimentei duas aventuras radicais: mergulho e arvorismo. À primeira não me adaptei muito bem. Ao mergulhar, senti uma pressão muito forte no ouvido. A descida, a dez metros de profundidade, é feita gradualmente e controlada pelo instrutor - que me acompanha todo tempo. Mesmo assim, mergulhei e retornei à toa umas três vezes antes de conseguir chegar ao fundo do mar e admirar suas belezas. Não senti nenhum medo do mergulho, talvez somente uma apreensão inicial. De fato há um outro mundo sob as águas: peixes, estrelas do mar imensas, corais e outras formas de vida que fogem de meu vocabulário :-) Devo ter permanecido cerca de meia hora lá embaixo. Perde-se inteiramente a noção do tempo. De volta ao barco e retirado todo o equipado, veio-me uma pequena dor de ouvido que se transformou em um incômodo permanente - estragando o recente prazer do mergulho. Era como se eu tivesse descido a serra e ficado com metade da cabeça cheia d'água. Algum vaso sanguíneo estourou em meu ouvido e sangrou um pouco - fiquei cheio de medo. Meu Deus! meu tímpano estourou?! Então um professor de mergulho que estava com sua equipe explicou-me que se isso tivesse acontecido eu estaria me contorcendo de dor. Realmente não era uma dor profunda que eu sentia. Essa sensação esquisita no ouvido e na cabeça durou até o dia seguinte! E neste dia fui, após o trabalho, ao otorrino (que entende mais de ouvido do que professor de mergulho!). Ele me disse que houve uma microlesão em meu ouvido e me receitou antibiótico por dez dias! Enfim, não pretendo repetir a dose. Ver peixinhos agora só com máscara (snorkel) sem mergulhar tão fundo, e conhecer o fundo do mar somente assistindo ao Discovery Channel/ NatGeo / Globo Repórter etc.

Com o arvorismo a história foi outra: só diversão! Para quem não conhece, arvorismo é o esporte praticado no alto das árvores. Há vários níveis, quanto mais difícil, mais próximo às copas das árvores. Você tem que passar de uma árvore a outra, superando diversos obstáculos, preso por cabos de aço de segurança. Um dos obstáculos é atravessar por cotocos de madeiras ligados entre si também por cabos de aço; em outro você tem que balançar em uma corda e se prender a uma rede no lado oposto; em outro há uma pequena tirolesa. Enfim, várias etapas até chegar ao final.
O parque em que pratiquei fica próximo ao trevo de Paraty (Paraty Sport Aventura). Lá chegando, fui recepcionado pelo casal francês Patrick e Sophie, que cuidam do parque. Simpaticíssimo, Patrick convenceu-me a percorrer o nível mais difícil, o que dá mais emoção: o vermelho! Sua esposa acompanhou-me até o treinamento, onde vesti o equipamento e as instruções me foram passadas. Depois subi por uma escada de madeira até uma árvore bem alta e ali começou a adrenalina. Em dois obstáculos pensei que tivesse que ser "resgatado" (que deve ser um mico geral). O primeiro foi um desafio que consistia em passar de uma árvore a outra com a ajuda de uma sequência de madeiras verticais , que balançavam à medida que passava de uma para outra (dá até um frio na barriga ao lembrar). O segundo mais difícil era uma sequência de balanços de cabos de aço, era preciso utilizar impulso para ir de um a outro até chegar ao fim. Exige coragem, concentração e um pouco de força física. Quando terminei tudo, eu estava exausto e todo suado! Muito bom! Fiz também a série de tirolesa ao final do arvorismo. O vídeo abaixo (propaganda do parque) dá uma ideia do que seja arvorismo. Esse esporte eu farei novamente, sem dúvida!


quinta-feira, 18 de março de 2010

Caim - José Saramago

Terminei de ler, quando estava em Paraty, o livro Caim, de José Saramago. Vai na mesma linha que o seu "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", mas desta vez ele retoma eventos do Velho Testamento. Conta história de Caim, assassino do irmão, condenado a vagar sem rumo pela terra.
A história começa com a Adão e Eva, e Saramago utiliza daquela sua inteligente e bem-humorada ironia. Uma passagem maravilhosa é quando ele questiona sobre a proibição de Adão e Eva comerem o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal:

"Este episódio, que deu origem à primeira definição de um até aí ignorado pecado original, nunca ficou bem explicado. Em primeiro lugar, mesmo a inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em compreender que estar informado sempre será preferível a desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a uma condenação eterna num inferno que então estava por inventar. Em segundo lugar, brada aos céus a imprevidência do senhor, que se realmente não queria que lhe comessem do tal fruto, remédio fácil teria, bastaria não ter plantado a árvore, ou ir pô-la noutro sítio, ou rodeá-la de cerca de arame farpado..." (pág. 12/13)

E ele segue criticando Adão!

"Agora somente nos interessa a família de que o papá adão é cabeça, e que má cabeça foi ela, pois não vemos como chamar-lhe doutra maneira, já que bastou trazer-lhe a mulher o fruto do conhecimento do bem e do mal para que o inconsequente primeiro dos patriarcas, depois de se fazer rogado, em verdade mais por comprazer consigo mesmo que por real convicção, se tivesse engasgado com ele, deixando-nos a nós, homens, para sempre marcados por esse irritante pedaço de maça que não sobe nem desce." (pág.14/15)

Nascem Abel, Caim e Set. Caim, por inveja, mata a Abel. Deus, que naqueles tempos tão antigos costumava aparecer a qualquer mortal, condena Caim a vagar pela eternidade. A partir daí Caim irá testemunhar diversas passagens bíblicas, como no episódio em que Deus põe Abraão à prova e o ordena a sacrificar seu próprio filho, Isaac. Ou na destruição de Sodoma e Gomorra. E, ainda, a derrubada dos muros de Jericó. Tudo observando, e às vezes interferindo, Caim compreende a crueldade do mundo e de Deus, que permite que todas as malvadezas ocorram; que permite que as crianças inocente de Gomorra morressem junto a seus pais pecadores.
O final é surpreendente, Caim dá um destino diferente para a família de Noé, reafirmando o surreal de toda essa história. Muito bom!

http://www.bondfaro.com.br/preco--livros--caim-jose-saramago-8535915397.html

segunda-feira, 15 de março de 2010

Noite

Noite sem lua
Noite sem nuvens
Apenas a Via Láctea a me iluminar

Noite sem nuvens
Noite sem lua
Apenas você a me faltar

Estrelas brilham
Cadentes caem
O vento sopra
O mar bate
O barco ao longe passa
O avião, no alto,
Me indica um destino

Procuro uma estrela
Cujo nome é o seu
Procuro uma estrela
Cuja força é a sua
Procuro uma estrela
Cujo brilho é o seu

Sorrateira ela me olha
Lá do alto
Mas se esconde entre bilhões
Por quê?

Noite sem lua
Noite sem nuvens
Noite
Noite

Noite de Temporal

Carnaval às Avessas

A banda silenciou.
O carnaval acabou.
Restamos eu e a quarta-feira.
Em cinzas.
Mas limpos, sem cadeira ou mesa reviradas.
Sem confete espalhado.
Sem serpentina, sem cacos.
Tudo muito limpo...

Mas um cheiro, acre e profundo.
Um cheiro que fere minhas narinas e
minha alma.
Um cheiro de vômito.
De todos os vômitos, tudo invade.

E tudo se converte em cinza,
naquela cor onde a dor parece mais fecunda.
Se multiplica...
Vivo monocromático!

Espero ansioso por outro carnaval.
Outro rufar de tambores.
Outra alegria.
Outros amores.
Mas meu fuso é diferente.
Meu tempo passa muito lento.
(Não aguento)
Enquanto isso,
sinto aquele cheiro, aquela dor, aquela cor.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Aqueles Dois

Assisti a uma peça muito boa no CCBB (valeu, Lenilton!) e a recomendo: Aqueles Dois. Conta a história de dois homens, Raul e Saul, que trabalham em uma repartição e descobrem que têm muito em comum. Nasce uma grande amizade incompreendida pelos colegas de trabalho. Em certos momentos temos a impressão de que ocorrerá de fato uma relação homossexual, mas não é isso o que acontece - em uma cena eles ficam nus, e o autor parece querer dizer: "eles poderiam fazer o que quisessem, mas a questão não é sexual!" Lembrei-me do filme Telma & Louise, da amizade das duas até a morte! No entanto a história de Raul e Saul é bem diferente. Emociona e é também muito divertida.
Há outros personagens, mas os dois são os onipresentes protagonistas, representados por quatro atores - ora um é Saul, ora é Raul, sem ordem alguma. Às vezes há dois Raul e dois Saul ao mesmo tempo! Muito interessante a direção. Confiram! Até 28 de fevereiro, é preciso comprar os ingressos com antecedência.

Serviço:
Local: Teatro CCBB III
Preço(s): R$ 10,00.
Data(s): 08 de janeiro a 07 de março de 2010.
Horário(s): Quarta a domingo, 20h.

Navio Negreiro

Ouvindo Caetano, que musicou parte de Navio Negreiro, de Castro Alves, quis postar aqui. A profundidade do tema dá mais força a esse poema perfeito. Apenas trechos finais:

"

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
"

(poesia completa: http://www.culturabrasil.pro.br/navionegreiro.htm )

E o vídeo:


Fez-se Mar!

Desprendeu-se da grande mãe.
Contra a vontade,
É verdade.
Estava tão bem!
Junto aos seus.

Desprendeu-se da grande mãe.
Bastou uma simples brisa
E seu caule tão frágil
Rompeu-se!

Ainda olhou para o alto,
Viu suas irmãs,
Viu o talo vazio,
Viu o seu lugar.

Lugar que lhe pertenceu
De onde deu sombra
De onde deu verde e alegria
De onde ouvia a cantar os pássaros.

Carregada pelo vento,
A dançar pelos ares,
A sentir frio na barriga,
Se barriga tivesse,
A pequena folha pousou calma na relva.

A brisa lhe trouxera o cheiro do mar...

E um cheiro de chuva...
Sente seus pingos!
No alto da grande mãe,
Era uma alegria senti-los:
Festa para os sentidos
(que não os possuía)

Mas agora, teme o futuro
O que há além do muro?

A relva transforma-se em filete d'água.
O filete, em córrego.
Do córrego ao rio,
Do rio à foz,
Da foz ao mar!

Ela vai ao seu encontro
Agora sem medo,
Nele mergulha, está no mar!
Desfez-se em mar!
Fez-se mar!

Greve!

A cirene, apenas um bit
Um impulso eletromagnético
Determina o movimento

Rodo o motor, 30 graus
Aciono a alavanca, 43 graus
Injeto, 30 ml

Aciono a alavanca, zero grau
Rodo o motor, zero grau

Chega. Parei! O robô está em greve!

Acreditemos!

É, meu Arcanjo,
Quando tudo vai embora
Quando tudo escapa pelos teus dedos
Quando o futuro é tão incerto.
Continuemos a acreditar!

Quando as peças não se encaixam
Quando tudo nos irrita e fatiga
Quando tudo nos confunde
Continuemos a acreditar!

Acreditemos que após a curva
Um lindo sol despontará
Acreditemos que, a caminhar,
Encontraremos flores perfumadas

Acreditemos em nossa juventude
Acreditemos em nosso poder
Acreditemos na vida!

Continuemos a acreditar!
E do teu beijo...
Do teu beijo não me esquecerei!