domingo, 15 de novembro de 2009

Tensão

a corda foi esticada
uma tensão irrefreável
sem espaços largos
sem bordas confortáveis

a casa está fechada
a janela, emperrada
o corredor estreito
aprisiona,
conduz a lugar algum

no jardim, as flores murcharam
todas
(e o vento empurra as sementes para longe)
o murro, alto e descascado,
encobre qualquer horizonte

e um cheiro desagradável
toma conta de tudo

o céu, cinza,
como uma grande manta negra
tecida a fios de chumbo,
pesado

e a chuva cai
mas a água não purifica!

Afogamento

Não me olhes assim
Desvia esse olhar
Teu olhar de cigana

Não descobrirás nada
Não compartilharei nenhum segredo
Desvia esse olhar

Meus olhos estão secos
Nenhuma lágrima queima meu rosto
Meus olhos estão secos
Mas meu coração...
... afoga-se!

domingo, 1 de novembro de 2009

Mais um brinde

hoje é um belo dia
para ser feliz
para olhar para frente
sentir alegria

hoje é um belo dia
em que o sol se abriu
em que a lua me sorriu
e minha estrela brilhou

hoje, meus passos suaves,
hoje, tua mão perfumada,
hoje, teu riso solto,
nosso abraço mais forte

a taça, ainda cheia,
transbordante de vinho
a vela, discreta,
queima sem pavio

e a noite passa
rapidamente
mas, antes que outro dia se faça
mais um brinde

História (de um bêbado)

Subi a escada aos pulos
Bati a porta
Corri e fui para debaixo do sofá
Sentindo a Terra que rodava
Na imensidão do Universo.

Ali, ouvindo o barulho do vento
O telefone não tocou
Nenhuma mensagem

Ali, debaixo do sofá,
esperando...
o quê?

Fechei os olhos
Aguardava a Revelação
(que não me veio:
o sagrado continua inacessível)

Encolhi-me todo
Senti uma pressão na garganta.
Meu Deus?!
Quantos martínis tomei?
Mas Ele permaneceu em silêncio.

Abstração

Vejo o chão abrir sob meus pés
Sinto a areia escorrer pelos meus dedos
Os espinhos do mundo apontam para mim
Acoado, fecho meus olhos
Fecho minha alma

No chão, as pegadas de outro homem
No céu, o raiar de outro sol
O vento sopra outro rumo
Eu corro. Corro. Corro!

Ninguém me alcançará
Estou além da estrada
que corre para o fim
de cada dia.

E no fim o vento é mais forte.
Segura-me pelos braços,
e leva-me para o alto.
Para o alto... sentir o cheiro do céu.
O sabor das nuvens
O barulho do infinito

E nada mais me importa
Nem o destino do homem
Nem o sentido da vida
Ou o mistério da morte

E aqui toco os pés dos santos!