quinta-feira, 18 de março de 2010

Caim - José Saramago

Terminei de ler, quando estava em Paraty, o livro Caim, de José Saramago. Vai na mesma linha que o seu "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", mas desta vez ele retoma eventos do Velho Testamento. Conta história de Caim, assassino do irmão, condenado a vagar sem rumo pela terra.
A história começa com a Adão e Eva, e Saramago utiliza daquela sua inteligente e bem-humorada ironia. Uma passagem maravilhosa é quando ele questiona sobre a proibição de Adão e Eva comerem o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal:

"Este episódio, que deu origem à primeira definição de um até aí ignorado pecado original, nunca ficou bem explicado. Em primeiro lugar, mesmo a inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em compreender que estar informado sempre será preferível a desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a uma condenação eterna num inferno que então estava por inventar. Em segundo lugar, brada aos céus a imprevidência do senhor, que se realmente não queria que lhe comessem do tal fruto, remédio fácil teria, bastaria não ter plantado a árvore, ou ir pô-la noutro sítio, ou rodeá-la de cerca de arame farpado..." (pág. 12/13)

E ele segue criticando Adão!

"Agora somente nos interessa a família de que o papá adão é cabeça, e que má cabeça foi ela, pois não vemos como chamar-lhe doutra maneira, já que bastou trazer-lhe a mulher o fruto do conhecimento do bem e do mal para que o inconsequente primeiro dos patriarcas, depois de se fazer rogado, em verdade mais por comprazer consigo mesmo que por real convicção, se tivesse engasgado com ele, deixando-nos a nós, homens, para sempre marcados por esse irritante pedaço de maça que não sobe nem desce." (pág.14/15)

Nascem Abel, Caim e Set. Caim, por inveja, mata a Abel. Deus, que naqueles tempos tão antigos costumava aparecer a qualquer mortal, condena Caim a vagar pela eternidade. A partir daí Caim irá testemunhar diversas passagens bíblicas, como no episódio em que Deus põe Abraão à prova e o ordena a sacrificar seu próprio filho, Isaac. Ou na destruição de Sodoma e Gomorra. E, ainda, a derrubada dos muros de Jericó. Tudo observando, e às vezes interferindo, Caim compreende a crueldade do mundo e de Deus, que permite que todas as malvadezas ocorram; que permite que as crianças inocente de Gomorra morressem junto a seus pais pecadores.
O final é surpreendente, Caim dá um destino diferente para a família de Noé, reafirmando o surreal de toda essa história. Muito bom!

http://www.bondfaro.com.br/preco--livros--caim-jose-saramago-8535915397.html

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