quarta-feira, 29 de julho de 2009

SEGREDO

Vou te contar um segredo.
Guarde-o bem.

A poesia, a poesia tem tamanho certo!
Se cortares aqui e esticares acolá,
Ela briga, resmunga e volta ao tamanho original.

Noutro dia tentei colocá-la
Em recipiente frondoso,
Com florões e detalhes de um marfim puríssimo.
Recusou-se!
“Criatura, criatura!?” – disse eu espantado.
“Sou o teu criador, me pertences!”
Não se compadeceu de minha angústia.

Tentei à força.
Enfiei uma palavra aqui,
Uma metáfora ali,
Uma hipérbole,
Uma prosopopéia nas bordas
Que talvez funcionasse como vaselina.

Não houve jeito!
Sobrava uma perna, um braço, um pedido de socorro.

Resignei-me.
Tirei os adereços, os enfeites.
Recoloquei o verbo original.
E a deixei deitada na folha simples.
Olhava-me com arrogância.

Reconheci. Estava completa.

1 comentários:

Lucimar disse...

A beleza das coisas realmente está na singeleza, na simplicidade. Maravilhosa!!! Bjs